07/05/10

As escutas.


Já aqui falei das escutas e do que elas representavam no tempo do fascismo, agora falo das escutas no tempo da democracia. Neste tempo a que chamamos o nosso tempo. Nos tempos do fascismo, sabíamos que existia a PIDE-DGS e conhecíamos os seus métodos, bastava-nos, por isso, estar alerta e vigilantes. Neste nosso tempo fazemos como? Como é que eu sei se o meu fornecedor de material de construção para o estúdio não é um grande passador de droga e está sobre escuta? Se eu lhe pedir 2 blocos de cortiça e 5 l de tinta branca, os escutantes, ou alguém a quem esses vão contar, não vão achar que eram 2 bolotas e 5g de pó que eu estava a encomendar? Depois iam descobrir que eu fumei uma ganza num qualquer sítio com uma pessoa qualquer, e estava mais que provado que a notícia era verdadeira. E aquelas baboseiras que às vezes dizemos pelo telefone podem ser transformadas em quê? – Naquilo em que um senhor editor de notícias quiser. E se acharmos a notícia tão ridícula que a desprezamos completamente? – Não houve desmentidos, por isso… E se estiver em segredo de justiça? – O editor de notícias faz as contas e conclui que o crime compensa, paga a multa e espalha. E se nós não tivermos capacidade para violar o segredo de justiça a que nos sujeitam? – Quem cala consente, está-se mesmo a ver que é verdade… Parece uma ditadura, não parece?
É!

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