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07/05/10

As escutas.


Já aqui falei das escutas e do que elas representavam no tempo do fascismo, agora falo das escutas no tempo da democracia. Neste tempo a que chamamos o nosso tempo. Nos tempos do fascismo, sabíamos que existia a PIDE-DGS e conhecíamos os seus métodos, bastava-nos, por isso, estar alerta e vigilantes. Neste nosso tempo fazemos como? Como é que eu sei se o meu fornecedor de material de construção para o estúdio não é um grande passador de droga e está sobre escuta? Se eu lhe pedir 2 blocos de cortiça e 5 l de tinta branca, os escutantes, ou alguém a quem esses vão contar, não vão achar que eram 2 bolotas e 5g de pó que eu estava a encomendar? Depois iam descobrir que eu fumei uma ganza num qualquer sítio com uma pessoa qualquer, e estava mais que provado que a notícia era verdadeira. E aquelas baboseiras que às vezes dizemos pelo telefone podem ser transformadas em quê? – Naquilo em que um senhor editor de notícias quiser. E se acharmos a notícia tão ridícula que a desprezamos completamente? – Não houve desmentidos, por isso… E se estiver em segredo de justiça? – O editor de notícias faz as contas e conclui que o crime compensa, paga a multa e espalha. E se nós não tivermos capacidade para violar o segredo de justiça a que nos sujeitam? – Quem cala consente, está-se mesmo a ver que é verdade… Parece uma ditadura, não parece?
É!

05/05/10

Casamento litigioso.



Há coisas que nunca nos dão jeito nenhum, uma delas é ser amigo com a mesma intensidade das duas partes de um casal. Quando se é só amigo de um e o outro vem por acréscimo, nós podemos, quanto mais não seja por amizade, colocar-nos sempre do lado do nosso amigo. Quando são os dois é uma enorme porra, porque são ambos a chagar e não dá para optar pelas razões de nenhum, senão as complicações, para o nosso lado, ainda são piores. A Beta e o Pelé foram, e ainda são, um dos meus casais problema. Nascemos todos na mesma praceta e desde putos que o Pelé e a Beta eram como o gato e o rato. Quando começámos a ser crescidinhos, na altura em que passamos a ter duas cabeças actuantes na nossa forma de agir, a Beta dizia que era capaz de andar com os gajos todos menos com o Pelé porque ele era nojento e este dizia que a miúda era uma vaca porque andava com todos, o que por acaso nem era totalmente mentira; Andava com todos menos com ele. Durante umas duas dezenas de anos aqueles dois seres eram de tal forma agressivos um com o outro, que o resto do pessoal evitava estar juntos se os dois, em simultâneo, também estivessem. Em 2004, já eu morava noutros mundos, recebi um convite para ir a um casamento, de quem? – Do Pelé com a Beta. O desatino começou no dia do casamento quando o Pelé achou que a esposa dançava demasiado agarrada a este ou aquele, porque já tinham andado com ela e assim… Depois a Beta que dizia: - Eu sempre te disse que este gajo é uma merda…Enfim uma novela que se mantém há 6 anos com o resumo dos últimos episódios 2 a 3 vezes por semana. Então mas não era óbvio que ia ser assim? É o chamado casamento litigioso.

04/05/10

Cocas




Se calhar não precisava de ter dito aquilo ao gajo, não era um cheirito, até porque a maior parte voa, que me ia transtornar. Mas deu-me um imenso gozo ver a transformação da cara dele, até aí altivo com o seu saco de coca na mão e a boca sempre a fazer caretas, quando eu lhe perguntei se tinha uma nota de 500 Euros, porque eu só cheirava com notas de aí para cima. Vim todo o caminho de regresso a casa a rir às gargalhadas. O dono da casa não achou muita graça, por temer que o abonador se chateasse, mas eu tive a preocupação de vir logo embora e lhe deixar a possibilidade de se desculpar alegando que eu sou maluco ou tenho uma qualquer espécie de tara. Tenho a certeza que se safou bem. Ainda me lembrei daquele maluco que dizia que espalhava coca no cabelo e que sacudia a cabeça para cima da mesa quando queria snifar e a mãe, ia-lhe comprando champôs para a caspa sem nunca se aperceber de nada. E daquele que foi para a casa de banho preparou os risquinhos para cheirar, enrolou a notinha e quando se inclinou para consumar o acto o cotovelo levanta e activa o aparelho de secar as mãos e lá se foi a branquinha com a ventania.