21/05/09

Camilo Lourenço. Está quase.

BPN: Memória curta

Março de 2001. A revista "Exame", que na altura dirigia, dizia na capa que o Banco de Portugal tinha passado um cartão amarelo ao Banco Português de Negócios. Dias depois recebi um telefonema de Pinto Balsemão. Assunto: o ex-ministro Dias Loureiro tinha-lhe telefonado por causa do artigo e, na sequência dessa conversa queria falar comigo, acedi prontamente.

A conversa com o ex-ministro foi breve...mas elucidativa: Dias Loureiro estava desagradado com o tratamento dado ao BPN; o assunto tinha criado um problema com a imagem do banco; não havia qualquer problema com o Banco Português de Negócios; Oliveira e Costa, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, e à época Presidente do Conselho de Administração daquele Banco (hoje em prisão preventiva) referiu que estava muito "incomodado" com a matéria da capa (para a qual tinha contribuido, com uma entrevista) e pensava processar a revista (como efectivamente aconteceu).

Depois da conversa comuniquei a Pinto Balsemão que não tinha ficado esclarecido com as explicações de Dias Loureiro e que, por mim, a "Exame" mantinha o que tinha escrito. O que aconteceu depois é conhecido... *(foi com os porcos, como sabemos.)

Ao ouvir Dias Loureiro na RTP fiquei espantado. Porque o ex-ministro disse que ficara tão preocupado com o artigo que foi, de "motu propriu", ao Banco Central comunicar que a instituição devia estar atenta. Das duas uma: ou Dias Loureiro soube de algo desagradável entre a conversa comigo e a ida ao Banco de Portugal; ou fez "fanfarronice" nessa conversa para esconder os problemas do BPN. Há uma terceira hipótese...Feia. Mas depois do que vi no assunto BPN já nada me espanta.

Camilo Lourenço.
camilolourenco@gmail.com

* foi um àparte meu, claro!

11/05/09

Bairros problemáticos?

Mas afinal o que são bairros problemáticos?

No meu bairro havia pessoas problemáticas, ou seja pessoas com quem toda a gente preferia não ter problemas. O Azul, o Zé Mau, o Moscavide, etc...Iam de "cana" imensas vezes, ninguém bufava dos gajos mas também ninguém os defendia. E ninguém os defendia porque eles não eram assim tantos e a opção dos habitantes era juntarem-se para defender os não-problemáticos quando os outros decidiam fazer alguma maldade. Os problemáticos não têm mais força, nem são mais espertos, são apenas problemáticos. Então os maus do meu bairro iam exercer para outros bairros, e às vezes, até eram úteis porque defendiam o bairro quando os maus dos outros bairros queriam exercer no nosso.
Ainda hoje é assim, existem até gangs organizados: o gang da Portela, o de Vialonga, o do Forte, o da Póvoa,...e ninguém diz que são bairros problemáticos ou que a Póvoa de Santa Iria é uma cidade problemática. E lá andam eles a tentar incomodar as localidades vizinhas. A coisa só se torna mais complicada quando um qualquer bairro acolhe vários grupos e a restante população do lugar demonstra fraqueza perante o temor que os mauzinhos lhes causam. Passam a viver numa ditadura particular.
Nós, o resto povo, que vivemos longe disso, somos solidários com esses oprimidos? -Nada! Nós andámos no 25 de Abril a cantar: "Casas sim - barracas não - as casas são do povo - abaixo a exploração! Lá Lá Lá. E depois pintámos as barracas com cimento de muitas cores, pusemos umas em cima das outras, deslocámos umas dum lado para outro conforme o valor do chão e escondemos a coisa.
Nós berramos com a Polícia quando ela arranha um mau, porque é opressão e é o regresso ao fascismo e tal, mas também berramos com a Polícia porque nunca está onde é preciso, quando a coisa ocorre à nossa porta.
Nós, sempre nos cagámos para isso, o importante era tirar dali a barracada que desvalorizava o nosso apartamento e no fim ainda dizíamos: -Tirarem dali as barracas foi o melhor que podiam ter feito.
Nós vamos chamar nomes à bófia porque mandou um gajo para o outro mundo onde ele vai encontrar os 3 ou 4 que mandou para lá, mas não vamos à Quinta da Fonte, ou do Mocho, ou ao Belavista, berrar com os gajos que andam a lixar a vida da maioria dos habitantes, que vivem na tal ditadura que nós deixamos criar e contra a qual somos incapazes de lutar. Vamo-nos lixar!!!

Vírus e bactérias.

Um vírus é basicamente um pequeno saco com um bocado de código genético lá dentro. Por si só não é capaz de se reproduzir, alimentar ou acumular energia. Fora de outro organismo o vírus não tem qualquer actividade. Precisa de se alojar numa célula para então "despertar para a vida", ou seja, desviando a função normal desta de forma a torná-la numa máquina de fotocópias de mais vírus iguais a ele.

Nalguns casos, tira tantos exemplares que acaba por matar o hospedeiro, o que acontece por estes dias com o mais recente surto de gripe.

Daquilo que se conhece, o vírus nada mais faz para além de se copiar.

Nessa medida, trata-se de uma forma muito primitiva e básica de vida cujo único objectivo é garantir uma continuidade existencial. Coisa que os genes, por exemplo, também fazem. Aliás, a tese mais consensual de momento afirma que estes minúsculos seres são bocados de código genético que se separaram de grandes cadeias, mantendo contudo uma capacidade de acção sobre essas mesmas cadeias. Ou seja, os vírus são mero lixo genético à deriva.

Ao pé de um vírus uma bactéria é um organismo muito sofisticado e complexo. Também aqui trata-se de uma simples cápsula com uma série de coisas lá dentro. Mas as bactérias já possuem meios de locomoção, recolhem nutrientes e reproduzem-se por si mesmas, na maioria dos casos, através de divisão, podendo também, nalgumas circunstâncias, recorrer ao sexo. Neste sentido, ao contrário dos vírus, as bactérias vivem a sua própria vida e estão activas em todo o planeta. Nos buracos mais inóspitos ou nos lábios das mais lindas mulheres - não é pela beleza mas pelo bâton que consideram um petisco. Basta dizer que um simples grama de terra contém aproximadamente quarenta milhões de bactérias. Outras há que preferem o interior quente dos animais à vida ao relento. Aí tornam-se parasitas debilitando o hospedeiro, aproveitam simplesmente a boleia e não causam qualquer efeito ou unem-se numa simbiose útil para ambas as partes, como acontece com as que vivem nos nossos intestinos cumprindo tarefas essenciais para a nossa sobrevivência. No campo parasitário e muito nocivo para os humanos temos o caso da tuberculose, entre tantas outras doenças.

A capacidade de intervenção das bactérias nos "grandes" organismos é muito maior do que a dos vírus. Não se limitam a copiar-se. Um exemplo curioso é o da bactéria "Dicrocoelium dendriticum" que se aloja no cérebro das formigas levando-as a subir pelas ervas acima sem qualquer benefício para a dita. Pelo contrário, esta bactéria espera assim ser ingerida por um herbívoro, no intestino do qual encontra as condições ideais para se reproduzir.

Vírus e bactérias vivem em mundos tão pequenos que se torna muito difícil para nós imaginar sequer do que estamos a falar. Nestes ambientes as coisas medem-se em mícrons ou seja mil vezes mais pequeno do que um milímetro. Uma bactéria tem normalmente entre 0,5 e 5 mícrons, enquanto um vírus é 100 vezes mais pequeno.

Se por um lado é notável como entidades tão incrivelmente diminutas conseguem provocar tanto estrago em "gigantes" como nós, não é menos surpreendente como com tão pouco espaço físico disponível é possível gerar tanta complexidade. Julgo que a chave para se compreender estes mecanismos reside no poder da informação. Temos, aliás, um paralelo no universo do digital. Uma simples alteração de 0 para 1 pode ter efeitos catastróficos. Imagine-se um simples e inofensivo interruptor que liga a luz em nossa casa, mas imagine-se agora um interruptor, em tudo semelhante, que dispare um míssil com ogivas nucleares.

Muitos destes vírus e bactérias fazem isso mesmo, disparam pequenos e locais processos que depressa adquirem gigantescas consequências. E não só no interior dos corpos. Basta pensar nesta gripe A e na forma como um ínfimo vírus consegue paralisar uma das maiores cidades do globo - com 20 milhões de habitantes -, lançar o pânico em toda a parte, desestabilizar a economia mundial e, não menos importante, matar uma quantidade apreciável de pessoas.

Efectivamente, nós não somos tudo e muito menos o pináculo da evolução.


Leonel Moura