20/04/06

Gripe das aves ou dos homens.

Eu também li o artigo da Clarinha e fiquei confuso.

Será a gripe das aves, ou dos homens?
Jornalista pedro.roloduarte@gmail.com
Pedro Rolo Duarte

"Já não há pachorra para a gripe das aves" - foi assim que começou, no jornal 24 Horas, na semana passada, uma série de artigos assinados pela bióloga e escritora Clara Pinto Correia. Apesar das polémicas em que se envolveu nos últimos anos, Clara é reconhecidamente uma cientista de mérito, professora universitária, e tem um extenso trabalho desenvolvido em Portugal e nos Estados Unidos. Ora, o que Clara afirma, corroborando e desenvolvendo informações que já circulam na Internet há meses, é basicamente o seguinte: a paranóia generalizada sobre a gripe das aves resulta de uma inteligente manipulação da indústria farmacêutica, e tudo começa e acaba em Donald Rumsfeld, secretário de Estado da Defesa de George Bush, que é accionista da empresa que tem a patente do medicamento Tamiflu. A gripe das aves, diz a bióloga, é uma "doença duvidosa" que "não causou mais do que umas cem mortes" "morre mais gente com a gripe vulgar". Clara não apenas denuncia a presumível tramóia como é taxativa na afirmação: "Tudo isto (...) para combater uma pandemia que está há nove anos para acontecer e já se percebeu que não vai acontecer nunca."
O que Clara escreve no 24 Horas circula por aí, em sites da Internet e artigos de revistas estrangeiras. É novo em Portugal porque ninguém, até agora, deu atenção a esta outra maneira de olhar o problema e é novo por ter sido uma cientista a "ousar" trazer o assunto para as páginas dos jornais portugueses...
O que me espanta, e me surpreende, é que ninguém ache que isto é tema para investigação, reportagem, informação (inclusivamente no próprio 24 Horas). O que me incomoda é a possibilidade de a Clara ter razão ou, noutra versão, a possibilidade de ela estar errada e eu estar a ser manipulado pelas suas crónicas e não haver quem siga este tipo de denúncias e o esclareça.
O que me incomoda é, uma vez mais, a forma como se pratica o jornalismo entre nós. Debaixo da agenda que as instituições determinam, com pouca imaginação, com pouca ousadia. Eu gostava de perceber se a Clara tem razão ou não e não é com crónicas que lá chego, é com jornalismo. Mas ninguém quer saber do assunto, e eu fico na mesma. Ou melhor: fico a pensar que a Clara, provavelmente, tem razão. E nesse caso, "nas tintas" para a gripe...

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