MARIANA CORREIA DE BARROS
Peixe. O trajecto do pescado desde a primeira venda até ao consumo final foi testado pelo DN bolsa. As variações de preço das espécies mais comuns são mesmo surpreendentes:
Preço do polvo varia mais de sete vezes no mesmo percurso.
Entre o valor que é pago na lota e o prato do restaurante, a sardinha aumentam de preço mais de 17 vezes. E se da lota à peixaria um pargo só encarece 12%, já quando chega ao hipermercado já subiu 58%. À mesa do restaurante são 198% a mais do que na primeira venda. Pescada 12 vezes mais cara do que o que é pago ao pescador é outro exemplo. E por aí adiante.
Desde que é capturado até às mesas de cada um, o peixe anda de banca em banca fazendo um percurso que à partida parece simples, mas que acaba por sair caro aos bolsos do consumidor. Um quilo de robalos, por exemplo, pode custar cerca de 13 euros na lota e o preço a pagar por apenas um peixe num restaurante subir até aos 40 euros. Os preços variam de zona para zona, dependendo do afastamento em relação à costa, da origem do pescado ou da qualidade dos restaurantes. Apenas uma certeza permanece inalterada: há um caminho a pagar... aos intermediários.
Portugal é o terceiro maior consumidor de peixe do mundo, ficando apenas atrás do Japão e da Islândia. Por ano, cada português consome em média 59 kg de peixe, face a uma média europeia que ronda os 20 kg por pessoa. Os últimos dados apontam para uma descarga de cerca de 168 mil toneladas por ano nos portos nacionais. A pesca nacional destina-se não só à alimentação como também à exportação. Porém, os valores de consumo dos portugueses são elevados, implicando por isso uma grande quota de importação - cerca de dois terços do peixe consumido, o que acaba por encarecer o preço de venda. Nestes dias de paralisação é provável que a quota tenha sido maior. Ontem foi o primeiro dia de peixe fresco de origem nacional desde sábado passado.
A hora de saída dos pescadores para o mar é variável. Depende da técnica que utilizam, da espécie que capturam e do estado do mar, ventos e marés. Por isso, o desembarque na lota é feito de acordo com os intervalos de tempo em que as embarcações saem para o mar e regressam carregadas.
Suponhamos a pesca do polvo, feita segundo a arte das redes fixas. O barco sai na maioria das vezes durante a noite - os polvos fogem quando vêm a luz do dia - para descarregar os alcatruzes e volta para a trazer o molusco para o cais. Cada embarcação traz as suas próprias caixas, onde deposita o resultado da sua pesca e que são em seguida arrumadas na lota.
Uma, duas ou três vezes por dia, a horas fixas, é feita a chamada 'primeira venda', na lota do peixe fresco. O polvo, nas caixas, passa pelo tapete rolante, pára na balança automática, onde são inseridos os seus dados num painel electrónico, e colocado à vista dos compradores. Inicia-se a venda. Os preços são apresentados no painel, em contagem decrescente, até alguém interromper a contagem, para comprar o peixe. A venda do polvo começa normalmente nos seis euros o quilo e é comprado a uma média de 4,05 euros. Na bancada estão compradores para mercados locais, para o Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), restaurantes, certos compradores internacionais e fornecedores de grandes superfícies e hotéis. O necessário para fazer parte da bancada de compra é ser empresário em nome individual e ter uma autorização paga na lota.
Depois de transportado para os diversos destinos, o peixe começa a aumentar o preço. Nos mercados iremos encontrar, por exemplo, o quilo de polvo a uma média de oito euros. Há também uma grande percentagem de peixe que segue para conservação, nomeadamente através do gelo, sendo depois vendido, por norma, em postas. Grande parte do abastecimento de peixe que encontramos nestas superfícies, nalgumas peixarias e mercados locais é feito no MARL. Por isso é comum que ao comprar polvo nos hipermercados se encontre os preços a nove ou dez euros.
No MARL, a maioria do peixe comercializado é proveniente de Portugal. Porém, há também pescado com origem em Espanha, no Norte e na Costa Ocidental de África, na América Central e do Sul. A verdade é que em nenhum mercado as tabelas de preço são fixas, vigora sempre a lei da oferta e da procura, E o MARL não é excepção, cada entidade presente comercializa o peixe ao preço desejado.
Feitas as contas e analisados os trajectos, sabemos que para trás ficaram ganhos para os pescadores, os mercadores e a própria superfície comercial. No caso do polvo, em termos de preço médio, por uma dose de cerca de 250g paga-se 7,50 euros, o que representa uma variação de 640% face à lota.
06/06/08
Sardinha sobe 17 vezes de preço entre a lota e o prato .
Publicada por Zé Leonel à(s) 6/06/2008 01:07:00 da tarde
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2 comentários:
Tou apaixonado pela miuda que escreveu este artigo
Aliás está tão bem escrito q é impossível resistir
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