25/11/05

Por acaso.

Caminhava eu ao acaso pelos caminhos escorregadios que os recursos me oferecem e que por acaso não gosto de frequentar porque caio muito, quando meio por desconhecimento meio por inocência escolhi um dos atalhos cuja sinalização dizia: caminhe por aqui ao acaso que encontrará o que procura. Não sei porque virei nesse atalho se não procurava nada definido, nada de concreto, i.e. eu não procurava mesmo nada. Mas virei. Um pouco mais à frente, já eu me questionava o que andava ali a fazer, vi uma pequena clareira e dirigi-me para lá sem grande convicção e deparei com uma feira de ofertas várias. Cheio de preconceitos, preocupado com que alguém reparasse em mim e me conotasse com aquela actividade, consultei as ofertas atabalhoada e apressadamente e voltei para o caminho. Continuei a caminhar, embora a medo, sem parar de pensar no que tinha visto e confuso sobre o motivo que leva gente a ofertar-se ao desconhecido, que armas terão para se defenderem? Que sentires as movem para tal risco?
Tenho de parar de pensar nisto, disse. Os sentires devem ser todos diferentes e as armas também. Eu não tenho nada disso, ando tão convencido das vantagens de ser sincero, transparente, leal que me espalharia ao comprido numa coisa dessas. Vou voltar para trás, penso que me lembro do caminho de regresso que por acaso parece diferente quando me viro ao contrário. É sempre assim, o mesmo caminho, nunca é igual duas vezes, pelo menos quando por lá andamos os primeiros tempos. É por isso que quando vamos duas vezes ao mesmo local ele da segunda vez nos parece mais perto. Mas fui e, por acaso, comecei a pensar diferente. E se de alguma forma a minha ida à clareira das ofertas ficou registada em algum lado? E se ficou que ganho eu em não querer aprofundar o conhecimento sobre o assunto? Fico registado sem experimentar? Vou voltar à clareira!
Caminhei decidido e entrei dando ares de entendido sobre o assunto e tentei mostrar um à-vontade que não tinha. Fiz comentários e parecia integrado até que me senti falso, eu estava a fingir. Não percebia nada daquilo e estava a candidatar-me a ser apanhado para um tema que não saberia desenvolver. Tinha de encontrar solução.
Por acaso, entre as ofertas uma havia que me tinha seduzido estupidamente, tão estupidamente que não fui capaz de a manusear, nem tocar. Senti que ela me chamava e por isso foi dessa banca que fugi, e esse fugir aumentou-lhe a atracção como é óbvio.

(Eu faço muito isso, até nas bancas das feiras, o que mais me atrai observo ao longe e onde não vejo nada que me interesse remexo tudo como se procurasse o que não vejo.)

Não, vou-me mas é embora dizia eu enquanto pensava naquilo que transmitia aos amigos quando me falavam em cliques e afins. Isto não é para mim, não tenho bases para isto e preparei o regresso à minha nuvem de paz cuja máxima é: não se deve correr atrás da encrenca.
Preparei o regresso e foi só o que fiz: preparar. A minha visita tinha realmente ficado registada e estavam-me a chamar. – Quem és tu? O que vieste aqui fazer? essas coisas. Por acaso, era a relações públicas da banca da qual fugi, por acaso? Por acaso estou-me a candidatar a colaborador dela. Por acaso acho que estou a correr atrás de encrenca.

Desculpa e obrigado.

Sem comentários: