Na minha família mais chegada, entenda-se isso como os familiares com quem estamos em permanente contacto, eu tenho 4 docentes e 9 alunos. É, por isso, natural que as conversas habituais tenham a escola como tema, o que, normalmente, é muito aborrecido. Quando os sindicatos dos professores engendram aquelas jornadas de luta, como a manifestação deste ano, a coisa ainda fica um bocadinho mais garrida mas de resto é, simplesmente uma chatice; -Porque fui dar aulas de substituição e o colega não deixou plano, porque tive de ir ao médico deixei plano de aula e o colega decidiu corrigir os testes dele e pôr os miúdos a ouvir música, porque a reunião que poderia demorar 45 minutos demorou duas horas devido a um ter estado meia-hora ao telefone e depois aquilo deu uma discussão tremenda, porque a professora de Geografia é surda mas recusa-se a não ter turmas e eu depois levo com os alunos a seguir e eles estão fulos, porque a do conselho executivo protege os amigos, porque o colega de português manda recados na caderneta dos alunos cheios de erros de ortografia e eu como sou directora de turma é que levo com os pais, porque nas férias escolares marcam quilos de reuniões no mesmo dia para ficarem com os outros dias livres e nas últimas horas já ninguém diz coisa com coisa. - esta é a parte dos docentes.
Os alunos queixam-se menos limitando-se quase sempre a testemunhar o que se passa com eles em relação a cada exemplo dado pelos pais, tios e irmãs. Fazem-no sempre sem grande entusiasmo e demonstram um afastamento da escola deveras preocupante. Quem mais demonstra amor pela escola é a minha filha Ana Miguel que tem 7 anos e está no 2º ano, a razão de gostar tanto de ir e estar na escola é, em grande parte, porque tem grande facilidade em construir amizades e porque a maioria dos colegas já andavam com ela na pré-primária. A Ana Miguel no 1º ano teve uma professora que andava zangada porque não conseguia a reforma por invalidez. Enquanto deu aulas faltava constantemente para ir a juntas médicas, ficava muitas vezes com baixa médica e lá acabou por ser reformada no princípio do 3º período. A Ana, quando a professora não vinha, era distribuida pelas outras classes e grande parte das vezes ficava no recreio com outras colegas. Ainda lhe deram uma 2ª professora, para o resto do último período de aulas, que estando em adiantado estado de gravidez não conseguiu terminar o ano escolar. Este ano a Ana Miguel teve uma nova professora, uma mocinha bonita com algumas ideias boas de quem está a começar, e todos, pais e alunos, estavam muito contentes. O azar é que a mocinha, com todo o seu direito, decidiu casar e a partir daí as aulas passaram a ser autênticas preparações de casamento para os miúdos. Ela falava-lhes do vestido, da igreja (até os convidou todos a lá irem), do copo-de-água, enfim mostrou-lhes toda a excitação do momento em que vivia o que deixou pouco espaço para leccionar. Para compor o ramalhete adoeceu durante a lua de mel acrescentando, assim, mais uns dias à licença de casamento. Ou seja a Ana Miguel não tem aulas há 1 mês, continuando, como no ano anterior, a ser distribuida pelas classes dos outros anos.
A Ana Miguel vai ser mais uma auto-didacta ou mais uma despreparada no ciclo que se segue, ou ambas as coisas.
Agora digam lá baixinho de quem é a culpa.
23/05/08
Professores e alunos, a família.
Publicada por Zé Leonel à(s) 5/23/2008 03:14:00 da tarde
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