28/02/08

O mérito.

Nunca se ouviu falar tanto no mérito como agora. Até aqui os médicos eram todos iguais, os polícias todos iguais, os funcionários públicos todos iguais, os professores idem e por aí fora. Sobravam os quadros, técnicos e outros da maioria das empresas privadas que sempre foram avaliados diariamente e que muitas vezes para manterem o emprego passavam de mandadores a mandados e, quase sempre, aceitavam a "desclassificação" porque perante a evidência a reconheciam.
Isto podia vir a propósito da avaliação dos professores, mas não vem. Vem a propósito da demissão do Dr. Barroso, esse crânio dos transplantes, que bateu com a porta por lhe atirarem à cara as mais valias que recebia pela sua dedicação médica. E vem a propósito de mim mesmo, eu explico: -Em Novembro de 2007 fui fazer uma colonoscopia no Hospital de Sta Maria onde me detectaram alguns polipos no intestino. Porque aquilo lhes pareceu complicado marcaram-me uma nova colonoscopia para Dezembro, com dois novos doutores. Em Dezembro lá fui eu e, desta vez, estive 40 minutos em exame (não, não passei a gostar) o que é doloroso, enquanto ouvia os médicos a discutir que os polipos eram enormes, impossíveis de aspirar, que tinha de haver cirurgia, etc... Pronto fiquei convencido. Fui à consulta explicaram-me o que se passava, a cirurgia não era muito complicada mas era obrigatória porque eu estava em estado de pré-cancro e que ia em Fevereiro fazer uma última colonoscopia preparatória para a intervenção cirúrgica. Desta vez disse-me o Dr. Carlos Noronha, que também tinha assistido à última colonoscopia, eu ia ser examinado e preparado pelo Dr. Carlos Marques que era o maior nessas coisas e que seria quem me iria operar.
Anteontem lá estava eu com o rabinho apertadinho, mas pronto para uma nova tortura rectal. As enfermeiras, desta vez, sedaram-me e chegou um sr. bem disposto que me perguntou pelas outras colonoscopias que eu respondi não trazer comigo e ele mandou-me esperar que as ia consultar no computador. Comecei por me preocupar pelo facto de pela primeira vez ser só um médico e, também, pelas enfermeiras estarem a comentar que a minha tensão estava altíssima. Daí a pouco vem o Dr. e começa o seu trabalhinho, mandou-me respirar fundo quando eu gritava de dores e pouco tempo depois, sempre bem disposto, disse bom dia e foi-se embora. Pensei que fosse pior, mas expliquei a mim próprio que como era só para preparar para a cirurgia foi mais rápido do que o costume.
Depois fui para a sala dos confusos (pós exame), tiraram-me a agulha da veia e daí a algum tempo perguntaram-me se me sentia bem e mandaram-me embora. Ao dirigir-me para a sala de espera passei pelo Dr. Carlos Marques e de uma forma mariquinhas perguntei: -Dr. quando é que eu posso comer? (eu não comia sólidos há 3 dias)
-Pode comer agora e de preferência uma feijoada. Mas se deitar muito sangue venha cá logo a correr.
-Mas sangue deito eu Dr.
-Isso era antes de eu lhe ter tirado isso tudo, agora se deitar é porque tem alguma hemorragia e tem de vir logo cá.
Fiquei tão aparvalhado que nem soube agradecer o trabalho àquele médico que me livrou num ápice de uma cirurgia e de uns tantos meses de sofrimento.
Uma cirurgia deve custar um dinheirão, para além do sofrimento físico e psicológico ante e pós que causa ao doente. O Dr. Carlos Marques poupou, para além de sofrimento, uma pipa de massa ao estado-aos contribuintes portanto. Não era lógico que o seu mérito fosse premiado? Repare-se que ele foi o 5º médico que brincou com os meus intestinos. Como diria o outro: os médicos são todos iguais, mas há uns mais iguais que outros!

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