25/03/08

Vira o vídeo e toca o mesmo.

Ainda as trapalhadas da luta dos professores estavam quentinhas e já os jornais e restantes órgãos de comunicação, vinham à Internet buscar outro assunto relacionado que alimentaria as primeiras páginas durante mais uma semana. Isto quer dizer que os professores compram e fazem vender jornais e isso é muito bom. Já não acho tão simpático que roubassem, a todos nós, o descanso pascal das férias escolares. Demoraram tanto tempo a descobrir o vídeo no You Tube que, já agora, podiam aguardar mais uns diazitos para o divulgarem na generalidade dos média, uma vez que quem vem aos blogues já tinha visualizado a coisa 3/4 dias antes.
Não é de agora, nem me parece que mude: sempre que os professores começam alguma luta, ou entram em conflito com a entidade patronal, a comunicação social abre-lhes as portas de par em par transformando-se numa espécie de megafone ao serviço da classe docente, mas seguidamente vão, durante muito tempo, cobrar-lhes tudo isso e, como aconteceu em anos anteriores, o saldo é quase sempre negativo para os profs.

O vídeo tirado do You Tube e que abriu noticiários das televisões, devia ser suficientemente elucidativo e transportar aquela antiga máxima de que uma imagem vale mais do que mil palavras, mas não. Hoje ao cidadão não lhe é permitido pensar e tirar as suas conclusões sem aquela influência horrorosa e pouco séria, dos títulos e das palavras "gordas" que uns senhores inventam de uma forma bem mais desonesta que os antigos vendedores de banha da cobra. "Aluna que violentou professora, mostra-se arrependida", "Professora agredida, ainda não apresentou queixa", foram e ainda são os títulos do que se passou. É claro que eu sei, todos sabemos que amanhã poderão ser "Aluna a quem retiraram telemóvel de forma violenta, seguida por pedo-psiquiatras", " Professora assume que a falta de experiência a leva a causar momentos de tensão nas aulas", etc... Depois aparece de novo um Sr.Charrua, desta vez não a contar anedotas mas a dizer que telefonou à professora e que ela está inconsolável, aparecem uns senhores a culpar a Ministra da Educação, outros o Governo, outros acusam a professora de não se saber fazer respeitar e por aí fora.

No entanto, o que vimos, foram menos de 2 minutos (1'41") de jogo da corda, ou dos burros, como preferirem, em que uma professora puxa para um lado e uma aluna de 15 anos puxa para outro um telemóvel que, ao que parece, pertence à garota e lhe foi retirado. Foi isso que vimos e só isso. O que aconteceu antes e depois ninguém sabe, até porque a professora não o relatou em tempo útil, como era expectável. Não o relatando de imediato foi porque não achou o assunto assim tão importante o que faz achar que, sem You Tube, no 3º período iriam continuar estas actividades extra-curriculares. Disseram também os jornais, alguns professores e uns comentadores, que toda a turma deveria ser responsabilizada ou porque se riram ou porque não ajudaram a professora, qual é a lógica disto? Os putos deveriam fazer o quê? Quando os adultos desatam à porrada dentro de uma discoteca, por exemplo, toda a gente que lá está dentro age mal se não se for meter ao barulho?

O ruído causado por esta trapalhada é nefasto: para os alunos, para os professores e para a sociedade em geral. Os disparates lançados por algumas pessoas com responsabilidades é péssimo para a alteração das mentalidades. Não se podem arranjar culpados à força, não se pode utilizar a maior capacidade de argumentação para ser inocente assim como não se pode utilizar a presumível inocência juvenil para desculpar os seus actos. Não nos podemos esquecer que estes meninos, tantas vezes apelidados de terroristas, mal formados, agressivos, com consumos de drogas e álcool, etc... uns dias antes serviam para estar ao lado dos professores em lutas políticas e ninguém me convence que fosse por sua iniciativa. Não aceito que transformem os meninos da minha terra numa espécie de catástrofe natural.

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Zé Leonel
No melhor da tradição judaico-cristã, a (re)leitura do teu post sugere-me a compilação de possíveis culpados, não estando naturalmente à espera de qualquer pedido de perdão:
- Os pais que há muito optaram por ser os melhores amigos dos filhos, abdicando do papel de educadores;
- A comunicação social cobrindo e amplificando fenómenos desta e outra natureza para gáudio do nosso espírito voyuer;
- O Estado que insiste em manter vagas para cursos que despejam anualmente milhares de licenciados no desemprego, ou, na melhor das hipóteses, no ensino, sem qualquer vocação para esta função;
- A ausência de um plano de educação em consonância com as directrizes de desenvolvimento de País;
- Uma certa mentalidade rive gauche que julga que castigar atrofia o desenvolvimento das criancinhas;
São apenas alguns. Podia elencar outros, mas em todos encontro um denominador comum: a ausência de bom de senso que se instalou em todos nós!
Apetece-me ouvir o comes a time (na versão Heart of Gold), na esperança de que melhores dias hão-de chegar.
Abraço,

Zé Leonel disse...

Estou plenamente de acordo com tudo o que escreves aí. O bom senso tornou-se em algo difuso e com múltiplas interpretações. De qualquer forma não há bom senso que chegue quando se coloca uma Sra de 60 anos, fora da realidade actual do ensino, a dar a 2ª língua à turma problema da escola, não concordas?
Abraço.

Anónimo disse...

Concordo. Sabes que pior que a falta de bom senso é a ausência total de caco!!!
Abraço

Anónimo disse...

Até que enfim que descubro um sítio onde o assunto é tratado de forma imparcial e simples tal e qual como ele é.
Bem hajam